sábado, 9 de março de 2013

Bom dia, dia ridículo


Bom dia pra você que conseguiu cavar seu buraco nesse dia tão lindo.

Entre meus espaços e meus meios, famosos por sinal.
Entre meu escuro, perto das frestas de luz, uma faixa maior se aproximou e quis roubar a minha escuridão.
Cheiro de mofo, de ácaros e guardadíssimos segredos que foram construídos ao longo dos séculos.
Ela entrou trazendo a luz do sol, queimando os fungos e bactérias que haviam lá.
Não, fungos não são maus, eles permanecem lá, até você conseguir limpar tudo.
Mas eu como uma rocha firme, pequena, escondida entre muitas outras e úmida, fria, fiz questão de deixar aquela luz forte me visitar, o dia estava incrível e da visão que eu tinha sobre aquilo, pensei: Hoje o dia está pra peixe, vamos fazer algo diferente.
Saí da minha mesmice e decidi encarar um sonho antigo. Tomar um pouco de sol.
Mas as raízes das plantas que haviam crescido em minha volta, não estavam preparadas pra suportar o calor, elas secariam muito rápido.
Me movi, fiz um esforço enorme, e deixei, me acomodei com aquele calorzinho que vinha.
Ondas quentes me invadiam, eu sentia calafrios e arrepios, minha estrutura estava abalada.
Comecei a me apaixonar por aquele calor nunca antes sentido.
Minha frieza estava sendo destruída!
Oh, como era delicioso.
Como foi prazeroso.
Mal sabia eu, que em algum momento minhas folhas amigas e companheiras secariam rápido  e eu ficaria sozinha.
Sou uma rocha, sei bem o que é estar só.
Sei bem o que é, não ter uma forma certa, ser cheia de orifícios e ondulações.
Nunca sofri a falta do sol, mas ultimamente via pedras e rochas sendo levadas pra lugares distantes e quentes.
Algumas delas ainda tinham a sorte de estarem unidas.
Aqui, onde estou, me encosto em umas rochas maiores do que eu, me sinto bem protegida.
Aqui, quando chove, pelo menos eu sei que isso alimenta o lodo que está a minha volta.
Estamos perto do mar, daqui se ouve o bater das ondas.
Mas de uns tempos pra cá, eu quis conhecer o sol, famoso, quente, gostoso.
Não sabia que ele me faria tão mal.
Minha curiosidade matou o que eu tinha de melhor.
Minha curiosidade foi o meu fim.
Alguém construiu uma casa aqui perto e meu dia enfim chegou, fui levada pra longe,consegui ficar só, distante das outras rochas.
Me saboreei com aquela cor intensa, eu quase não enxergava.
Eu quase sofria, mas fui deixando.
Minha temperatura foi mudando, fui queimando, sentindo desconforto. Comecei a chorar e pedir aos céus ajuda, eu não estava preparada pra aquilo tudo.
Pensando eu, porque que nas outras havia tanta resistência e eu, eu era fraca daquele jeito.
Decidi unir pensamentos positivos pra que alguém me visse naquela situação e me levasse de volta pro meu aconchego.
Ainda estou a espera, alguns anos se passaram.
A noite eu não durmo, fico só pensando na dor que será o dia inteiro.
Então tento aproveitar o luar, mais fresco, mais úmido, como sempre foi...
Eu queria uma fresta de luz, me deram um eterno calor.
Eu não fui forte, não suportei.

Terei mais cuidado com meus desejos.
Afinal, uma rocha nem sempre é tão forte assim.


Um comentário:

  1. Mudanças e medo andam sempre de mãos dadas, ou melhor dizendo, andam em lados opostos unidos por um fio,como numa brincadeira de cabo de guerra, onde nem sempre há um vencedor. Luciano Couto.

    ResponderExcluir